sexta-feira, julho 28, 2006

A verdade absoluta - parte II

O aluno filósofo continua mandando questões... Agora ele comentou algumas coisas que eu disse sobre modelos de mundo e referencial e sobre a "cor da cor". O destaque vai para a afirmação: "A verdade não é o que vemos, a verdade é o que é, independente de nós." Ele pede para dizer o que acho.

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RESPOSTA:


Bom, para encerrar o assunto a respeito da cor posso dizer que a cor não existe. Não no objeto, não como propriedade da matéria. Cor é apenas um código cerebral para os diversos comprimentos de onda da luz.


Mas quanto aos sistemas heliocêntrico e geocêntrico a questão é apenas de escolha mesmo do referencial. Isaac Newton conseguiu chegar na lei correta da gravitação graças às leis de Kepler que foram obtidas graças a dados muito precisos obtidos por Brahe e assim mesmo apenas depois de adotar o sistema heliocêntrico. Isso parece validar que o sistema heliocêntrico é verdadeiro e o outro falso... mas eu diria apenas que um é "MELHOR" do que o outro, melhor no sentido de permitir obter as leis do movimento com simplicidade. Mas uma vez que a lei da gravitação foi obtida por Newton você pode aplicá-la a qualquer sistema. Isso porque na fórmula não há nenhuma menção sobre quem gira ao redor de quem, portanto independe do sistema.

Vamos pegar um sistema menor e mais simples para ilustrar: O sistema Terra-Lua. Você adotando a Terra como referencial nesse sistema, vai afirmar que a Lua gira ao seu redor, e estará certo. Alguém que esteja na Lua vai observar de forma diferente e por isso vai afirmar que a Terra gira ao seu (dele lá) redor, e estará certo também.

Mas a lei de Newton vai explicar que o sistema Terra-Lua gira ao redor de um ponto chamado centro de gravidade que está a um certa distância entre os centros da Terra e da Lua, e isso também estará certo, e será mais apropriado neste caso.


Na verdade diversos modelos podem coexistir simultaneamente e ser usados em situações diferentes conforme a necessidade pedir.


Quando você diz que


"A verdade não é o que vemos, a verdade é o que é, independente de nós."


Eu apenas complemento a afirmação com o seguinte: "a Natureza (ou a verdade sobre a Natureza) não depende de como nós a descrevemos, ela é o que é independente de nossos modelos. Dela só podemos fazer descrições aproximadas e limitadas."


O que quero dizer é que montamos nossos modelos, cientes de que ele pode não ser plenamente correto, mas os usamos enquanto forem úteis. Nossos modelos são aproximações. A nossa descrição (modelo) pode explicar várias coisas, mesmo não sendo o MODELO PERFEITO. Vou dar outro exemplo:


O modelo atômico de Bohr. Ele é bastante simplificado, já está ultrapassado, mas ainda é útil nas salas de aula. É, como qualquer modelo, uma aproximação, mas permite entender como ocorrem as ligações químicas e a formação das moléculas entre outras coisas.

(Veja por exemplo: http://www.rossetti.eti.br/aula-menu.asp )


Acho que o que difere a sua forma de pensar da minha não é a crença em uma VERDADE ABSOLUTA mas a crença, da sua parte (e descrença de minha parte) na capacidade de obter um MODELO PERFEITO, um modelo que descreva exatamente como é a natureza, um modelo que se aproxime tanto da verdade absoluta a ponto de se poder dizer que o modelo é a expressão da verdade. Você crê ou ao menos deseja profundamente que isso seja possível. Eu não creio e não desejo isso.


Mas veja que os modelos novos são aproximações melhores do que os modelos antigos... ou seja, a Ciência evolui construindo novos e cada vez melhores modelos... isso parece uma busca... uma busca da perfeição...

E eu gosto de pensar que o infinito/perfeição/verdade não é a meta a ser atingida mas a meta a ser buscada... E porque empreender uma busca sem fim? Porque o que se colhe na busca não está no fim, mas no próprio caminho. Lembra daquelas escursões de escola onde o melhor da viagem não é chegar, mas a viagem em si? É mais ou menos isso.


Mas há outra coisa que eu costumo dizer: TUDO É POSSÍVEL, OCORRE APENAS QUE ALGUMAS COISAS SÃO MUITO IMPROVÁVEIS.

Não deve ser impossível alguém encontrar o modelo perfeito, aquele que é idêntico a verdade absoluta, mas é muito improvável que isso ocorra.


Outra coisa que digo sempre: TUDO QUE É POSSÍVEL ACONTECER ACONTECE DESDE QUE HAJA TEMPO PARA ISSO.


Junte as duas coisas e você vai ter a certeza de que o modelo perfeito pode ser encontrado, desde que o tempo disponível seja infinito.

O que quero dizer é que se não é impossível obter o modelo perfeito (ou seja, encontrar a verdade absoluta) então talvez um dia isso aconteça. Tanto pode ser daqui a dois segundos como pode ser daqui a 2 bilhões de anos ou milhares de vezes esse valor (note que cálculos apontam que o Universo tem em torno de 15 bilhões de anos e deve existir ainda por outro tanto). A única forma de ter certeza de que isso vai acontecer é se o tempo fosse infinito, a existência do Universo fosse eterna, e houvesse eternamente pelo menos uma mente preocupada em resolver o problema.


Se você conhece Filosofia talvez perceba certa semelhança com Platão aqui, não?


Leitura recomendada de hoje: O Guia do Mochileiro das Galáxias.

E sites:

Veja este: http://www.odialetico.hpg.ig.com.br/thiago/verdabsoluta.htm

Eu não conheço o autor, não sei qual a formação dele e não compartilho a opinião dele, mas vai na mesma linha do seu pensamento. Mas note no resumo no final da página que ele diz:

A "Verdade Absoluta" existe porque serve de referencial para que algumas
teorias sejam objetivamente melhores que as outras e não somente diferentes.

É um pouco do que eu disse – é uma meta a ser perseguida, não alcançada.


E este: http://skepdic.com/brazil/ceptifilos.html é sobre o ceticismo científico.


Atenciosamente

Prof. Sandro

quinta-feira, julho 27, 2006

Uma pergunta sobre a verdade absoluta.

- O mesmo aluno da pergunta anterior, enviou esta:
Agradeço muito a resposta, foi a resposta mais completa que já li.
A visão a que me referia era essa que de certa forma se realiza nos olhos,
a projeção bidimensional na retina, se é que entendi bem.
Outra questão, que talvez escape um pouco do assunto Física, mas que é tão
presente em todas as ciências.
A meu ver, existe uma verdade absoluta que rege todos os acontecimentos e
que explica todos os fenomenos deste universo.
Pode parecer pouco racional afirmar isso, mas vou tentar justificar esse
pensamento, e depois gostaria de saber a sua opinião em relação a
existência dessa verdade.
Fisicos, quimicos, biologos, criam hipóteses e tentam transformá-las em
teorias, só que na essência, as hipóteses surgem a partir de perguntas, e
é importante ressaltar isso, pois as teorias em si propõem respostas para
essas perguntas. Os cientistas pensam e chegam a essas respostas, mas eles chegam pois
essas respostas existem, e o conjunto delas é oque eu chamo de verdade
absoluta. Não poderemos saber nunca se a alcançamos ou não, mas podemos saber que
ela existe. Para tornar isso mais claro só posso dar um exemplo: A teoria da
biogênese, ela tem que estar certa ou errada, fatalmente existe uma
resposta, existe a verdade por trás disso, assim como para todas as
coisas, no entanto, não temos nunca como saber se a alcançamos ou não.
Se não há respostas, é porque fizemos a pergunta errada, ou por outros
motivos, e aqui posso citar os temas religiosos, para os quais
supostamente "não há respostas".
Não é verdade, há respostas, o que não há são perguntas, as pessoas que
acreditam e que seguem uma religião não a questionam, e as pessoas que
questionam muitas vezes se afastam da religião.
Depois dessa justificativa acho que parece menos absurdo afirmar que há
uma verdade absoluta que dita os fenômenos.
Pode ser que voce concorde, e pode ser que não, a verdade em relação a
isso existe, mas para descobrir terei que fazer novamente a pergunta.
O que você acha?
Agradecido pelo seu tempo, e por favor não me mande para um professor
de filosofia, hehe, pois queria saber a opinião de um professor de física em
relação a isso.
Abraços

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Resposta:

Puxa! Você foi fundo agora.

A questão é tão profunda que não acho que seja em um e-mail que me vou conseguir fazer entender.

Bem, vou começar dizendo que o cientista não está preocupado em achar a verdade, pelo menos não necessariamente. Para o cientista as boas teorias ou os melhores modelos são aqueles que funcionam. E os modelos que funcionam são usados até seus limites, ou seja, até onde eles já não puderem explicar os fatos observados. Nesse momento é preciso ampliar, reformular ou abandonar o modelo, conforme o caso.

A busca da VERDADE é (ou era, não sei bem!) objetivo dos filósofos.

Realmente eu não acredito em VERDADE ABSOLUTA pois qualquer processo ou fenômeno pode ser observado de um modo diferente gerando uma descrição diferente - o que talvez gere perguntas e respostas diferentes - sem que isso modifique o fato em si.

Vou usar também um exemplo - o modelo heliocêntrico e o modelo geocêntrico. "Qual desses modelos é o certo?" Essa é o que você chamou de pergunta errada e como tal não tem resposta, mas alguém pode argumentar que o modelo heliocêntrico tem que estar ou certo ou errado, mas não é bem assim. O modelo heliocêntrico adota o Sol como referencial e o modelo geocêntrico adota a Terra como tal. E na verdade eu posso adotar qualquer outro objeto do Universo como o referencial, posso adotar a Lua, ou Júpiter, ou meu umbigo ... e nenhum deles estará certo ou errado. A escolha do referencial apenas pode tornar a descrição dos fenômenos mais simples ou mais complicada e é claro que um modelo mais simples vai ser mais útil por poder explicar melhor e possibilitar previsões de resultados - é por isso que o modelo heliocêntrico é o mais adotado. Note que usei o termo "mais adotado", pois quando qualquer pessoa fala no "nascer do Sol" ou no "pôr do Sol" está usando o modelo geocêntrico (sem saber provavelmente).

As Ciências Naturais utilizam sempre de modelos para descrever os fenômenos observados na Natureza e com o uso desses modelos ousam fazer previsões, ao testar em condições de laboratório essas previsões podem se confirmar ou não, em caso afirmativo o modelo é bom, em caso negativo a que se analisar tudo, desde o procedimento experimental, passando pela previsão em si e até as bases do próprio modelo.

Por isso posso dizer que a Ciência é uma construção.


Mas eu senti, lendo sua mensagem, que ao dizer "VERDADE ABSOLUTA" você estava na verdade querendo dizer "EXPLICAÇÃO". Nesse caso vou concordar com você que tudo tem explicação desde que a pergunta seja feita direito. Por exemplo se alguém me perguntar porque o céu é azul eu vou falar em difusão da luz solar na atmosfera e que em função dos gases que compõem essa atmosfera, a cor mais difundida é a cor azul, ao menos durante o dia, enquanto que na alvorada e crepúsculo e direção do disco solar a cor mais difundida tende para o vermelho, e posso explicar isso também. Mas se a pessoa insistir na pergunta e quiser saber porque aquele espectro luminoso mais difundido corresponde ao que chamamos de azul... aí não poderei responder, pois não é uma questão científica - a questão poderia ser reduzida a uma simples pergunta sem sentido: "porque o azul parece azul e não de outra cor?".


Mas voltando à questão da VERDADE ABSOLUTA - para explicar porque o céu é azul alguém pode usar o modelo ondulatório da luz e uma outra pode utilizar o modelo corpuscular. E os dois podem explicar muito bem. Mas serão duas explicações bem diferentes. Os dois modelos podem ser testados, mas alguns fenômenos não podem ser explicados pelo modelo corpuscular, como a difração por exemplo, e outros como o efeito fotoelétrico, não pode ser explicado pelo modelo ondulatório... portanto temos dois modelos para um mesmo fenômeno, a LUZ, e não podemos fazer todas as mesmas previsões e portanto os procedimentos experimentais para um modelo e para outro elas precisam ser diferentes - o procedimento experimental pode ser entendido como a forma de fazer perguntas... a pergunta feita para um modelo pode não ter sentido se feito para outro.

Então pela lógica que você expôs no e-mail, a LUZ tem que ser ou onda, ou partícula. Mas na prática ela é as duas coisas, mas você só pode ver uma de cada vez. Portanto o que ela É depende de como você OLHA. Ou seja, a verdade (sobre a luz) é relativa.


Vou fazer uma afirmação paradoxal agora: “a verdade é sempre relativa, incluindo essa afirmação.”

Se você analisar bem essa afirmação vai ver que parece que dá um “nó” na cabeça!


A Física Quântica é a ciência mais bem sucedida de todas as já criadas pelo homem. E apesar disso a sua base está assentada sobre PROBABILIDADES e não sobre CERTEZAS. Um exemplo: em uma amostra de material radioativo só é possível calcular (prever) quantos átomos vão decair em certo tempo e verificar experimentalmente que a previsão foi boa... mas é impossível dizer quais átomos irão decair, e isso não decorre do grande número de átomos, podemos ter uma amostra com quatro átomos e prever que em uma fração de segundos um deles vai decair, mas nada poderá dizer qual deles. Qualquer previsão nesse sentido será simples chute, ou seja, escolhendo um átomo ao acaso (de um número de quatro) a chance ele decair é de 25% que o mesmo que se obteria em um jogo de quatro cartas.


Albert Einstein sem querer contribuiu para o surgimento da Física Quântica. Fez isso ao utilizar o modelo de Planck dos “pacotes de energia” para explicar o fenômeno fotoelétrico. Ficou evidente então o caráter duplo da luz e a quantização da energia. No entanto no decorrer do desenvolvimento da nova ciência ele divergiu, não aceitou em nenhum momento que não pudéssemos prever com certeza absoluta, medir com precisão absoluta, conhecer a natureza com precisão absoluta. Ele propôs que por trás dos fenômenos quânticos deveria existir um mecanismo então oculto e que se fosse conhecido nos forneceria a capacidade de SABER tudo. Era a Teoria das Variáveis Ocultas. Teóricos analisaram seriamente as idéias dele durante muito tempo e até alguns testes foram propostos e executados e tudo (lógica, consistência, observação) leva a crer que não existem variáveis ocultas. Ninguém afirma que não nada mais além da Física Quântica, não é isso, diz-se-que a proposta de Einstein não é consistente. A Física Quântica evoluiu muito desde a década de 20 quando surgiu. As mais modernas teorias a respeito da matéria e do Universo são DELIRANTES mas não há nada que se assemelhe ao que Einstein acreditava. E aqui chegamos finalmente à religião... Einstein embora de descendência judia não professava nenhuma fé. Não se dizia ateu entretanto. Mas a atitude diante da “incerteza quântica” foi certamente o tipo de atitude que se espera de alguém religioso. Diga a qualquer religioso, de qualquer fé, que não existe VERDADE ABSOLUTA e você vai ver como eles reagem negativamente a isso... afinal para quem crê em Deus, há pelo menos uma verdade absoluta:”Deus existe!” . No caso de Eintein a crença era de que havia uma Unidade, uma Lógica Universal, um Princípio Único que explicava tudo. Hoje ainda há quem busque esse princípio único pelo nome de Teoria do Campo Unificado (mas pode chamar de “Teoria de Tudo”), Stephen Hawking é um dos cientistas que trabalham nessa linha, e curiosamente Hawking é ateu (ou se diz ateu).


Eu disse que a busca da Verdade é ou era objetivo dos filósofos, bem, não é bem verdade... os religiosos também buscam a Verdade ou mais do que isso buscam o “caminho da Verdade” , o caminho que vai ligar, ou melhor, RELIGAR o homem à Verdade ... Mas religião você sabe, o melhor é não comentar. Quando alguém entra em uma discussão com uma opinião formada vai fazer de tudo para 1- conservar intacta a sua opinião e 2 – convencer os outros a pensar da mesma forma. Algumas poucas pessoas são capazes de entrar em discussões livres de preconceitos e plenamente capazes de reconhecer a lógica de uma boa idéia e de filtrar o que lhe serve e o que não lhe serve e assim reformular suas próprias opiniões. E se com opiniões já é difícil imagine com religião que é, pela própria definição, algo sagrado.


Vou agora deixar uma lista de links para sites que tratam dos assuntos tratados aqui:

http://www.feiradeciencias.com.br/sala19/index19.asp

Acessando o site Feira de Ciências (link acima) veja os textos:

00 – Jovem Novo Selvagem

04 e 05 – Ciência ... para que serve

17 – A queda da autoridade e do senso comum

48, 49, 50, 51, 52 – As bases da Ciência e Construindo a Ciência.

Os textos dessa página são muito bons. Você pode ler outros cujos títulos se sejam atrativos. Nesses textos que eu indiquei você vai ler sobre o Método Científico, o desenvolvimento da Ciência e seus objetivos, mitos e o que é pseudociência.


http://www.aventuradasparticulas.ift.unesp.br/

Site sobre o modelo padrão – o modelo atômico em uso atualmente. É bem interessante.


http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm

Este link é de uma revista eletrônica e esse número foi todo dedicado à Física Moderna. Você pode conhecer um pouco mais sobre a Física Quântica aqui.


http://www.fisica.net/quantica/

Para saber mais sobre a Física Quântica veja esse site.

terça-feira, julho 25, 2006

Quantas dimensões podemos ver?

Pergunta recebida de um aluno:

Muitas vezes já li opinioes diversas sobre esta questão, pessoalmente tenho minha opiniao formada, e já vi a de alguns professores de física, gostaria de saber: Quantas dimensoes nós vemos com nossos olhos?

Resposta enviada:

A questão que você enviou depende de que se entende por "dimensões, o que se entendo por "ver" e o que se entende por "ver com os OLHOS".

Para efeitos práticos e usuais o mundo tem três dimensões espaciais e mais o tempo. E isso é tudo que podemos perceber com nossos sentidos. O espaço percebemos com a visão e até mesmo com a audição - sabemos de ver ou de ouvir se algo está perto ou longe, acima ou abaixo de nós. O tempo percebemos devido aos ciclos internos (como fome, sono, sede e outros).
Se o mundo tem outras dimensões como propõem algumas teorias elas não são de forma alguma perceptíveis.

Você fala em "ver" mas a visão é apenas um dos sentidos que usamos para entrar em contato com o mundo externo, os outros são a audição (que já citei acima), o olfato, o paladar e o tato.

São mesmo os olhos que veêm alguma coisa? Não seria talvez o cérebro que efetivamente VÊ ? O que você acha? As imagens se formam na retina do olho da mesma forma que se forma sobre um filme fotográfico de uma camara ou da mesma forma que as imagens do cinema se projetam na tela. E isso não é ver. A imagem formada na retina, ou melhor, a luz que incide sobre a retina induz impulsos nervosos (que se trata de uma corrente elétrica do tipo iônica) que viajam até o cérebro que então interpreta os sinais formando então a imagem mental da cena... note que as imagens projetadas na retina são invertidas em relação ao objeto que se está olhando, então se a visão ocorresse no olho enxergariámos tudo de cabeça para baixo - o cérebro interpreta os sinais e forma a imagem mental na posição correta.

Agora você poderia pensar, que aconteceria se a imagem formada na retina mostrasse mais do que três dimensões (caso elas existissem) será o que o cérebro seria capaz de reconhecer e formar uma imagem mental incluindo essa outra dimensão, ou será que por incapacidade de compreensão ele simplesmente ignoraria esse novo detalhe?
Não pense que isso é absurdo, pois existe casos curiosos de pessoas que após acidentes em que o cérebro foi lesionado, não conseguem "ver" um dos lados , digamos por exemplo, o lado direito mas vê tudo que está a esquerda, mesmo com olhos funcionando perfeitamente e com a interpretação cerebral praticamente intacta... o cérebro por alguma razão ignora um lado ... é estranho, bizarro até, mas existe.
O que quero dizer é que o fato de não conseguirmos perceber mais do que três dimensões espaciais não é prova definitiva de que só existam três. As outras dimensões, se existem, podem estar escondidas de alguma forma.

E como eu disse no inicio a questão depende do que entende por "ver". Só vemos aquilo que foi projetado na retina, a retina é uma superfície, ou seja, é bidimensional (tem duas dimensões, se ignorarmos a curvatura), portanto a imagem é bidimensional então se a imagem é bidimensional será que realmente VEMOS a terceira dimensão, no caso a PROFUNDIDADE ? Bem, aí que vem a questão da definição de VER. Se VER é o mesmo que PERCEBER então sim nós vemos a terceira dimensão afinal somos capazes de avaliar as distâncias apenas olhando para algo.
Isso se deve ao fato de termos dois olhos ligeiramente afastados, cada olho vê um mesmo objeto sob um ângulo ligeiramente diferente, e no cérebro - SEMPRE ELE - as duas imagens se fundem em uma só criando a sensação da profundidade.
Mas se você resolver definir que "ver" é apenas o fenômeno que ocorre no olho, então a resposta vai ser que não vemos a terceira dimensão e o mundo passa a ser bidimensional. Mas aí você vai ser obrigado a afirmar que de alguma forma nós (e não deveria citar o cérebro) criamos a "ilusão" da terceira dimensão.
Mas lembre que as distâncias também podem ser avaliadas, ainda que de uma forma não tão boa, por meio da audição. E isso também ocorre pelo fato de termos duas orelhas paralelas e afastadas de uma pequena distância, isso faz o som chegar em um ouvido em um tempo ligeiramente diferente do que chega no outro, aparentemente uma diferença insignificante, mas suficiente para o cérebro formar uma sensação de distância.

Imagino que a sua questão não foi respondida, mas você mesmo falou em "opinião". Eu não chamo o que escrevi de "opinião" mas de "forma de ver" ou de "ponto de vista" ou, uma palavra mais bonita, um "paradigma" - esse é meu paradigma. A questão interessante é que vendo o mundo de uma forma ou de outra não muda o que o mundo é, mas muda a descrição que você faz dele, e a descrição pode tornar a compreensão fácil ou difícil, só depende de você.