sexta-feira, junho 10, 2005

Faça o que eu digo, não o que eu não faço (?)

Li a algum tempo uma história:
Ocorreu no Oriente Médio em algum lugar e tempo imaginários... Uma mãe desesperada com a quantidade de açucar que seu filho comia foi ao juiz (Cadi) reclamar. Por favor, mande meu filho reduzir a porção diária de açucar, eu não ganho o suficiente para sustentar a gula dele. Ou algo assim... O cadi pensou um pouco, olhou para a mãe e para a criança e pediu uma semana de prazo para refletir sobre o assunto.
A mãe não gostou de esperar tanto tempo, mas não teve outra alternativa.
Uma semana depois a mulher volta com seu filho ao juiz, e ele então setencia:
Menino a partir de hoje você está obrigado a reduzir pela metade a sua ração diária de açucar!
A mãe ficou satisfeita, mas não resistiu a pergunta: Porque você precisou de uma semana para decidir? E ele disse: Eu precisava saber se eu mesmo era capaz reduzir o meu consumo de açucar, antes de obrigar alguém a fazê-lo.

Eu aprendi a lição. Como professor jamais solitei um trabalho ou pesquisa sem antes eu mesmo pesquisar o assunto, sem antes verificar as fontes de pesquisa, inicialmente em livros e revistas e depois também na Internet. Nunca pedi um trabalho que eu mesmo não fosse capaz de fazer. Nunca apliquei uma prova que eu mesmo não fosse capaz de resolver em 50 minutos (na verdade em menos do que isso, pois os estudantes costumam levar mais tempo).

Mas tem muito "professor" por aí que solicita trabalhos impensáveis, descabidos, desconexos...
Pede coisas sem antes ter ele mesmo verificado onde o assunto pode ser encontrado ou pesquisado. Assim, não orienta os alunos (nem poderia), que então ficam perdidos, tentando adivinhar o que é que o professor quer, outros achando um jeito de "encher lingüiça" com o pouco que acharam a respeito, ou que pensam ter achado.

E os tais "projetos interdisciplinares" então? Tem "pedagoga" (nem é preconceito, nem vem!) que acha que quanto mais misturar assuntos melhor, mesmo que não exista ligação alguma. Ficam forçando a barra. Faz sentido: se vivemos em um rede de interações então tudo está de uma forma ou outra relacionado... seria um bom argumento, não fosse o caso da enorme complexidade da questão.

Já vi "projetos interdisciplinares" de enlouquecer qualquer um de mente sadia. Um sobre aborto por exemplo, onde os pobres alunos tinham que relacionar esse tema à Física !!! Uma coisa que me parece sádica mesmo, imagine: calcule o torque aplicado à cabeça do feto no momento que o forcéps puxa o inocente para fora, ou qual a máxima tração que permite o retirar o feto sem lhe arrancar a cabeça. O pior de tudo é que não se tratava de discutir o assunto, pois numa discussão muita coisa pode aparecer, mas não, era para "fazer um trabalho relacionando à Física ao aborto". Sinceramente isso não tem cabimento, que me perdoem os que criaram o tal projeto ou com que concordaram com ele.

Se vai pedir um trabalho escolha um tema pertinente, seja racional e pesquise primeiro. Indique as fontes. Especifique os itens. Crie situações problema (insisto: seja razoável!) que possam ser resolvidos a partir dos conhecimentos adquiridos com a pesquisa.

... e tenho dito!
Salan

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