O aluno filósofo mandou nova mensagem. Vou postar apenas meus comentários, os mesmos que enviei a ele.:
Vamos lá:
Você disse: “eu tenho certeza que os cientistas não poderiam provar que chegaram a verdade absoluta, ainda que tivessem chegado.”
Então é curioso que a única certeza absoluta é que é impossível ter certeza – foi isso que você disse, certo? Ou seja se o nosso Modelo Ideal, além de ideal for também PERFEITO e por perfeito entendo como idêntico à Verdade Absoluta, não saberíamos disso e portanto ainda teríamos dúvidas, não teríamos certeza. Portanto ainda nesse caso haveria desconhecimento.
Isso me lembra meu primeiro ano como professor a mais de dez anos... Eu comentava justamente sobre a incapacidade teórica de se obter medidas exatas, e portanto a impossibilidade de existir PERFEIÇÃO. E como exemplo citei figuras geométricas: “você nunca viu uma circunferência perfeita nem um quadrado perfeito, nem uma esfera perfeita... “ as figuras perfeitas só existem na imaginação e na definição matemática que é precisa.” (isso é o que eu disse em outro e-mail para você que lembra Platão). Bom eu discutia isso na sala, os alunos viajaram junto comigo e então uma aluna me derrubou... ela disse: “Se eu nunca vi uma esfera perfeita então eu não sei o que é uma 'esfera perfeita', então se um dia eu encontrar uma como saberei que ela é perfeita?” (ou era algo assim). Eu fiquei mudo por um bom tempo antes de reorganizar o pensamento e achar uma resposta.
Agora você diz a mesma coisa.
Bom, mas podemos imaginar que um modelo perfeito deveria encerrar a verdade sobre si mesmo, ou seja deveria provar a si mesmo como tal. Mas nem imagino como seria possível isso.
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“Da forma que você me explica, parece aqueles casos do movimento uniforme, para o qual sempre da para achar um referente para o qual eu não estaria em movimento. Nesse caso tudo depende de onde você está olhando.”
É exatamente isso! Há uma forma que você visualizar isso. Acesse a página abaixo:
alcyone/planet's orbits
Baixe o programa Planet's Orbits. Instale e execute o programa. A tela se parece com a figura abaixo.
Ao escolher o Sol como referencial vc vê os planetas girando ao seu redor, essa é a visão que teria alguém fora do sistema solar observando o sistema fixando-se na posição do Sol – selecione visualizar a órbita e vc vai ver que algumas órbitas são bem alongadas e outras parecem circunferências. Escolha a Terra como referencial e você vai observar o que veria alguém fora do nosso sistema observando-o tendo se fixado na posição da Terra, para ver melhor apague (oculte) as órbitas.
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“A verdade absoluta não poderia ser considerado um modelo perfeito, pois ninguém teria como ter certeza que é realmente perfeito, mas ela pode permanecer como ideal, como algo a ser atingido.”
Já comentei sobre isso no início do texto.
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“Eu fico surpreso e curioso sobre a fisica quantica, como algo pode funcionar na base de probabilidades dessa forma?
Isso nunca falha? Uma bomba nuclear pode explodir sem querer porque existia uma chance de 15% de que isso poderia acontecer?”
As incertezas quânticas são restritas ao “micro mundo” no mundo macro, esse de que temos percepção os fenômenos bizarros do mundo quântico não são observados – os efeitos estatísticos dele sim, mas não os eventos individuais.
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“Não que eu deseje que chegue na verdade absoluta, mas imagine por exemplo, um clássico da matemática. 1+1=2. Imagine se 1+1 tivesse uma probabilidade X de ser 2, que complexo. (...)”
Cuidado como o que você diz. Uma coisa não é necessariamente óbvia por parecer ser óbvia. O 1 + 1 é um exemplo. Nem sempre o resultado é dois, nem sempre a soma é possível. Uma regra da mais básicas da Matemática diz que você só pode somar elementos que pertençam a um mesmo conjunto. Então se você tem dois conjuntos, digamos o conjunto das laranjas e o conjunto dos cadernos. A soma 1 caderno + 1 laranja, é impossível. Você pode até argumentar que pode colocar sobre uma mesma mesa, um caderno e uma laranja e chamar isso de “soma”, mas na verdade você continua tendo sobre a mesa, 1 caderno e 1 laranja, e não 2 laranjas ou 2 cadernos, portanto você não somou. Mas eu escuto você dizendo que sobre a mesa tem dois objetos ... OBJETOS... ahhh “objetos”... sim, agora sim ... mas... esse é outro conjunto. Se eu tenho 1 objeto e soma mais 1 objeto eu fico com 2 objetos. Por isso eu digo, soma só é possível se os elementos pertencem ao mesmo conjunto.
Vamos adiante. A soma pode ser possível quando os elementos pertencem ao mesmo conjunto mas isso ainda não garante que o resultado seja 2. Se o que estamos contando são grandezas escalares ok, sempre será 2 - 1 joule + 1 joule = 2 joules; 1kg + 1kg = 2 kg; e assim por diante. Mas se estivermos somando grandezas vetoriais teremos que levar em conta a orientação da grandeza. Digamos que estamos somando os módulos de duas forças cada uma com intensidade de 1 N. Se os dois vetores (força é vetorial) tem a mesma direção e os sentidos opostos a soma será ZERO (!!)
Se os vetores forem perpendiculares entre si a soma será “RAIZ DE 2”. A soma será 2 apenas se os dois vetores tiverem a mesma direção e o mesmo sentido. A fórmula da soma de dois vetores A e B é: S² = A² + B² + 2.A.B.cos(angulo) , onde S é a soma, A e B são os módulos dos vetores e “angulo” é o ângulo formado entre A e B. No caso de A e B iguais a 1, a soma S pode ser qualquer valor entre zero e dois. Portanto se alguém te perguntar quanto é 1 + 1, você deveria dizer “depende”... e iniciar toda uma discussão até saber o que se pretende somar.
“a dúvida que ainda me incomoda é aquela dos modelos geo e heliocentricos, ainda acho que eles de certa forma não coexistem um com o outro.”
Eu acho curioso você ter se perturbado tanto com isso, pois o movimento é uma noção relativa a um referencial, a trajetória é uma noção relativa a um referencial. E não há nada de mais nisso. Galileu foi levado a um tribunal da Inquisição a toa e penso que foi ciente disso que ele refutou sua teoria diante do tribunal (não sei se foi isso, mas pode ter sido, ele pode ter percebido que não valia a pena morrer por tão pouco).
Muito mais curioso do que saber se um sistema de mundo é mais certo ou mais errado do que o outro é pensar no duplo comportamento da luz – onda e partícula e mais ainda ao saber que a própria matéria pode apresentar comportamento ondulatório. E também é curioso que o movimento e portanto a velocidade é uma noção relativa a um referencial... e apesar disso a velocidade da luz no vácuo é sempre a mesma não importando onde e como a medida seja feita. É curioso que eu posso estar em uma nave espacial com a impossível velocidade de 200.000 km/s na direção de uma estrela, de encontro portanto à luz que ela emite e a luz que ela emite viaja a 300.000 km/s ... ora, eu deveria medir a velocidade como sendo de 500.000 km/s afinal a luz se afasta da estrela a 300.000 km/s e eu me aproximo dela a 200.000 km/s... mas... (meus instrumentos devem estar com defeito!), pois continuo medindo para a luz 300.000 km/s.... Se eu inverter o movimento e me afastar da estrela a 200.000m/s eu deveria medir a velocidade da luz como 100.000 km/s... mas (tem que ter alguma coisa errada!) eu ainda meço 300.000 km/s.
A Teoria da Relatividade de Einstein não diz que TUDO é relativo... na verdade diz que pelo menos uma coisa é ABSOLUTA – a velocidade da luz no vácuo.
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